AULA 03
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Aula 3 – Quem deve cuidar do Bullying na Escola
Iniciemos a nossa terceira aula. Acesse o vídeo a seguir, que tem 2’39”. Ele nos ajuda a fixar o que estudamos na aula 2.
O vídeo fala do Programa de Combate à Intimidação Sistemática. A proposta define oito tipos de bullying que devem ser evitados no ambiente escolar. E aponta caminhos para criar uma cultura de paz nas escolas. Veja no vídeo de animação, produzido pela Agência Senado, o que poderá ser considerado bullying.
Já sabemos que temos muitos desafios para cuidar do Bullying. Mas, com toda a certeza, a melhor forma é a prevenção.
Infelizmente, as escolas que deveriam educar para as diferenças e as diversidades nem sempre estão devidamente preparadas para lidar com essas situações e, em alguns casos, agravam mais ainda o problema.
Como já discutimos nos fatores internos e externos que geram violências nas escolas, existem graves consequências que ficam evidentes quando o ensino é negligente e quando os adultos presentes na escola não se indignam com os momentos de preconceitos e de maus tratos.
Muitas vezes, a instituição trata de forma inadequada os casos relatados. A responsabilidade é, sim, da escola, mas a solução deve ser em conjunto com os pais dos estudantes envolvidos.
É claro que ao considerarmos situações de bullying que ocorrem em ambiente escolar, em especial em sala de aula, como o caso “Janice”, logo pensamos no papel fundamental do professor. Principalmente se o problema envolver os seus estudantes.
Mas, afinal, quem deve cuidar do “Bullying na Escola”? Que é o responsável em resolver? TODOS. Do porteiro à Direção.
É claro que o orientador educacional, por sua formação pedagógica, tem mais possibilidades de coordenar um Programa Antibullying. Mas, sozinho, será impossível conseguir sucesso.
Fonte: https://vitrinecatarina.wordpress.com/2013/11/22/saint-exupery-e-a-ilha-da-magia/
E fizemos a opção pedagógica de iniciar pelo papel do professor, uma vez que ele é a figura que passa mais tempo com os estudantes.
Assista ao vídeo “Bullying: isso é grave! Entrevista com Cléo Fante”.
3.1 O papel do professor
O professor, de fato, tem um papel muito importante na prevenção do bullying e este deve:
- Observar com atenção o comportamento dos es1tudantes, dentro e fora de sala de aula, e perceber se há quedas bruscas individuais no rendimento escolar.
- Incentivar a solidariedade, a generosidade e o respeito às diferenças, por meio de conversas, trabalhos didáticos e até de campanhas de incentivo à paz e à tolerância.
- Desenvolver, desde já, nos espaços de aprendizagem, um ambiente favorável à comunicação entre estudantes.
- Quando um estudante reclamar ou denunciar o bullying deve procurar imediatamente a equipe diretiva da escola para buscar ajuda.
Alguns cuidados são importantes, pois o professor que critica constantemente o seu estudante, o compara com outros, o ignora, está expondo esse estudante a ser mais uma das vítimas do bullying e, de certa formam está agindo com desrespeito ao espaço pedagógico. A crítica injusta fundamenta em preconceitos é uma das formas de comunicação violenta, que provoca hostilidades e amplia o mau desempenho e mais violência, seja em que idade for.
O professor não deve tratar o estudante de forma desrespeitosa, pois esse estudante pode se “espelhar” nesse professor e reforçar atitudes de desrespeito ao próximo.
Não estamos aqui, atribuindo ao professor toda responsabilidade da ocorrência de bullying na sala de aula. Os estudantes podem certamente cometer o bullying sem se basear nas atitudes do professor. O professor de um lado tem o dever de transmitir o papel ético, que envolve a importância do respeito mútuo, do diálogo, da justiça e da solidariedade e os estudantes o papel de entender e cooperar com as ações do professor.
3.2 O Papel da Família
Na aula 02, você estudou sobre a importância da família na formação e educação da criança e também os desafios com as novas ções familiares. O grupo familiar exerce profunda e decisiva importância na estrutura psicológica e na formação da identidade do adulto. A família precisa ser entendida de forma sistêmica.
Os pais ou responsáveis cumprem também um importante papel no que diz respeito aos limites dados aos filhos. Mas há uma grande confusão ou desconhecimento dos pais ao pensarem que dar amor é o contrário de conversar sobre limites e colocá-los.
E quando isso acontece “sobra” muito para a escola. As crianças, adolescentes e jovens esperam por limites. Testam, a todo o momento, e utilizam todo o tipo de comunicação para isso.
Sabemos que educar os filhos sempre será um grande desafio, principalmente na atualidade onde a mãe e o pai estão cada vez mais ocupados pela exigência do mercado de trabalho. Além do mais, os filhos são diferentes uns dos outros e não vêm com “Manual de Instrução”.
Cabe considerar ainda que a estrutura familiar também é outra na contemporaneidade. Muitas famílias não são mais constituídas por uma mãe, pai e os filhos. Existem outras constituições familiares que devem ser levadas em conta ao tratarmos do tema nas escolas. Famílias onde existe apenas a figura da mãe. Outras que têm a figura do pai, mas a figura apenas física “corpo presente”. Outras em que a figura central é a avó. Independente da constituição, o importante, segundo Bezerra e Linhares (2006) , é entender que não é o modelo de família que garante a felicidade de seus componentes, mas justamente as relações construídas por eles.
Segundo ainda os autores:
Cuidar de um filho é criar condições para que ele desenvolva sua autonomia e fortaleça, ao mesmo tempo, seu sentimento de pertencimento à família. É importante saber que não vamos prender, controlar, vigiar, proibir nosso filho. Nós vamos cuidar dele [...] cuidar, além de dar carinho e atenção, é estabelecer limites. O limite que um pai, uma mãe ou responsável coloca, serve de referencial e apoio para o filho fazer suas escolhas, com maior probabilidade de acertos e menos danos. É importante ressaltar que não colocamos limite em ninguém. O que podemos fazer é colocar nossos limites. (BEZERRA e LINHARES, 2006, p. 15).
Com a inserção cada vez maior, principalmente da mulher no mercado de trabalho, a família acaba por delegar à escola o papel de educar com limite. Esperam que a escola supra a sua ausência. Quantas crianças, adolescentes e jovens passam o dia inteiro na escola? E nisso os pais acabam por ceder aos caprichos dos filhos, como forma de compensação pelas ausências.
Encontrar o equilíbrio necessário entre ser liberal ou durão, permissivo ou careta, é também um desafio permanente. Isso também é válido para os educadores.
Concordo com Seidel (2003) quando afirma que o mundo mudou muito e a base para repensar esse papel passa por conhecer o processo de formação da identidade pessoal, bem como a comunicação humana, canal para a educação.
É preciso dedicar tempo e diálogo, realizar o discurso de pai e mãe, mas também dar o exemplo. Os filhos conhecem seus pais como ninguém. Sabem como estão com disposição, alegres, tristes etc.. Isso também acontece na escola, os estudantes passam a conhecer os seus professores e então passam a usar esse conhecimento a seu favor.
Não adianta hoje tentar educar os filhos apenas com os métodos de educação que o pai e mãe tiveram. É importante a autenticidade da comunicação, comunicar sentimentos, compartilhar o que estão vivendo em seus trabalhos e nas outras relações significativas para a vida da família. Independente da idade dos filhos, todos entendem a linguagem do amor verdadeiro.
Bezerra e Linhares (2006) afirmam que nossa comunicação deve crescer com nossos filhos. Temos que abraçar nosso filho de 14 anos, de 17, de 25, de 30, de 68 com idade que ele tem e não com a idade que temos no coração, porque nunca deixaremos de ser pais, nem eles de serem filhos.
E isso vale também para os estudantes. Por isso a importância da comunicação!
E se o que falamos tem coerência com nossas ações, então vale o que falamos.
Muitas crianças e adolescentes [e jovens] estão perdendo o referencial de limites, criando uma dificuldade estrutural para a formação de sua identidade pessoal e convivência cidadã, pela ausência de um convívio de qualidade com os pais. Limite e autonomia são faces da mesma “moeda”. O limite dá o contorno da autonomia. São formas diferentes de ver o desafio de educar para a maturidade, associando autonomia e responsabilidade. Isso se concretiza quando os limites são estabelecidos em conjunto (dependendo da idade dos filhos) e com a clareza das consequências que o respeito ou não a eles resultarão. (SEIDEL, 2003, p. 57).
Menezes (2011) apresenta 12 Princípios básicos do Amor-Exigente e diz que, ao refletir sobre eles, conclui-se que aí estão as principais causas dos desajustes individuais e familiares. São eles:
- Os problemas da família têm raízes profundas na estruturação atual da sociedade.
- Os pais também são gente: os pais não são super-heróis, nem se tornam perfeitos ao se tornarem pais.
- Os recursos são limitados: educar bem os filhos é tirar de dentro deles o melhor que têm a oferecer.
- Pais e filhos não são iguais: ser amigo dos filhos é ajudá-los a ser a pessoa certa para si mesmo e para o mundo em que vive.
- A culpa torna as pessoas indefesas e sem ação.
- O comportamento do filho afeta os pais, o comportamento dos pais afeta os filhos.
- Tomar atitude sem nenhuma firmeza ou perseverança precipita a crise.
- Da crise bem administrada, surge a possibilidade de mudança positiva.
- Na comunidade, as famílias precisam dar e receber apoio.
- A essência da família repousa na cooperação, não só na convivência.
- A exigência na disciplina tem o objetivo de ordenar, organizar nossa vida e a de nossa família.
- Amor com respeito, sem egoísmo, sem comodismo deve ser também amor que eduque, oriente e exija: amar os filhos não é fazer tudo por eles, dar-lhes tudo o que é possível. Amá-los é, essencialmente, exigir que eles façam o melhor que podem para si e para os outros.
Um dos principais desafios hoje é trazer a família para a escola e encará-la como parceira para fazê-la compreender e exercer seu papel primordial participando da vida escolar de seus filhos. Pois é nesse momento que será capaz de identificar quando seu filho estiver sendo vítima de Bullying ou quando estiver participando como praticante. É importante que fiquem atentos ao comportamento de seus filhos, assim como as mudanças inerentes de cada fase.
3.3 O Papel da Escola
O papel da escola na atualidade sofreu mudanças drásticas, de modo que vai muito além da função de formação acadêmica, agregando também funções como a socialização, formação de caráter e cidadania.
Podemos até dizer que vivemos um período de crise da educação, em que o papel da escola não está tão claro. Os objetivos vão além de ensinar conteúdos educativos. A escola passou a ser também um espaço de interação entre seus participantes, adquirem valores e crenças, desenvolvem senso crítico, autoestima e a segurança.
O bullying no ambiente escolar pode ocorrer em diversos locais, pátios, nos horários de intervalos, banheiros, bibliotecas, corredores, quadras esportivas, salas de tecnologia, laboratórios, imediações da escola e na sala de aula. Pesquisas apontam que, no Brasil, o bullying acontece, principalmente, em sala de aula.
Portanto, a função da escola diante do bullying é, primeiramente, reconhecer que existe este conflito e essa violência em seu meio e traçar assim estratégias para eliminá-lo e, mais que isso, trabalhar para a prevenção ao bullying e das formas de violência em geral. Nessa proposta devem ser incluídas a família, toda a escola, a sociedade e o Estado, pois ninguém deve ser eximido dessa responsabilização.
A escola tem um papel importante no desenvolvimento de atitudes e valores e a abordagem dos limites com crianças, adolescentes e jovens.
Falar em desenvolvimento de atitudes e valores, e na abordagem de limites com crianças, adolescentes e jovens, é falar do Sistema Preventivo de Dom Bosco, que tem uma forte ligação com todo conteúdo que estamos estudando. Desenvolver atitudes e valores é cultivar uma escola segura e cidadã. Dar limite, com amor, é cultivar uma escola segura e cidadã. Mediar conflitos é ser preventivo, como tão bem ensinaram D. Bosco e Madre Mazzarrello.
Aqui faremos apenas uma breve recapitulação do que vocês já conhecem sobre o Sistema Preventivo de Dom Bosco.
Dom Bosco, diante dos jovens, desejando sempre o bom desenvolvimento destes e querendo, acima de tudo, o seu bem, assumiu o conceito de preventividade e o praticou com exaustiva eficácia em sua longa trajetória histórica de educador, tanto de jovens em situação de rua como na educação formal.
Ao falar de Dom Bosco educador, subentende-se o grande promotor e enriquecedor da pedagogia preventiva, tanto que se fala hoje em Sistema Preventivo de Dom Bosco. Também a pedagogia de Dom Bosco, ao abranger a pessoa como um todo, está relacionada a um caminho espiritual de se posicionar perante a vida, perante as pessoas e perante Deus.
A vocação educativa de Maria Mazzarello tendo por inspiração, “reunir muitas meninas para torná-las boas”, nos ajuda nesse tema.
O bem dos jovens proposto por Dom Bosco em seu Sistema Preventivo sempre foi muito claro: o bem completo dos jovens. Especificamente, inserir os jovens como honestos cidadãos que tivessem meios de trabalhar e manter uma vida honesta. Por outro lado, Dom Bosco, ao promover o bem dos jovens, sempre pensou neles como um todo, incluindo então o sentido da vida, a vida espiritual e a fé em Deus como Pai carinhoso, que quer e deseja o bem de todos, agora, nesse mundo, e a salvação eterna, como finalidade última de todos. Assim, a religião faz parte integrante do projeto educativo de Dom Bosco, que resumiu o bem completo dos jovens na afirmação: bons cristãos e honestos cidadãos.
As três palavras mais significativas desse Sistema Preventivo são: razão, religião e amorevolezza (amabilidade). Elas são importantes, pois saem a partir de uma afirmação desse teor: esse sistema se resume em processos e procedimentos baseados na razão, na religião e no carinho. O termo amorevolezza sintetiza para D. Bosco as expressões mais fortes do processo pedagógico do sistema preventivo. A amorevolezza permeia todas as relações educativas de uma instituição salesiana. Sem ela, as relações educativas podem até ser muito consideráveis, mas deixarão de ser a expressão da pedagogia salesiana.
Então, um mediador de conflitos com postura salesiana precisa também ter a doçura, a gentileza, a bondade, a paciência, a compreensão, a afabilidade, a simpatia, o carinho, a proximidade, o entusiasmo, todos esses valores ou dimensões vitais importantes na formação de todas as crianças, dos adolescentes e dos jovens. Esses valores são capazes de engrandecer a pessoa como indivíduo, como cidadão e como pessoa. Dessa forma, a pessoa torna-se capaz de se relacionar consigo mesma, pelo sentido amplo da vida de filha de Deus. Então, na convivência com os outros, expressa o amor de Deus através da caridade, do afeto, da simpatia e da compreensão.
Se a racionalidade dos processos educativos é portadora de uma verdade conquistada e respeitada, se a religião confere, no processo educativo, o sentido amplo e sobrenatural da vida, iluminando aos educandos a dignidade de ser pessoa e de ser filho de Deus, a amorevolezza confere a melhor qualidade e nobreza às relações educativas e estabelece um bem maior, a qualidade entusiasmante da relação educativa. Desse conjunto surgem outros valores muito significativos para se estabelecer uma grandeza inequívoca ao ambiente educativo, a nobreza, a alegria, o respeito, a liberdade, autossatisfação, a criatividade, o entusiasmo e, sobretudo, um dos maiores frutos da educação salesiana: a alegria da vida.
Uma escola onde reina a alegria da vida é, com certeza, uma escola segura e cidadã.
Calvin, na charge abaixo, nos apresenta uma realidade. Confira:
Fonte: http://blogdoxandro.blogspot.com.br/2010/05/tiras-n899-calvin-haroldo-bill.html
Leitura complementar
Leia o artigo “Bullying no Ambiente Escolar”, de Cléo Fante, disponível em:
http://stiloweb.net.br/portfolio/_clientes/Inov/Site2010/site/artigos/9.pdf
3.4 O Papel do Estado
O papel do estado é uma forma de complemento ao papel das escolas. Ele atua na prevenção, evitando que os casos de Bullying possam se expandir na sociedade. Dessa forma, deverá se utilizar de suas políticas para criação de novas leis, além de instituir programas e campanhas de conscientização e de expansão de conhecimentos sobre o Bullying, com o intuito de evitar as futuras práticas.
O Estado tem como dever cuidar do bem estar social e, para que isso ocorra, é necessário o investimento em métodos que visem à conscientização e informação da sociedade. Dessa forma, irá facilitar o debate do tema, tendo em vista que a divulgação do conhecimento sobre o assunto é uma das alternativas para a prevenção e diminuição das práticas de Bullying.
Portanto, é fundamental que haja o acesso à informação por parte da sociedade, para que, através do conhecimento sobre o tema, possa ajudar no combate e prevenção às práticas de Bullying. Afinal, sabe-se que, para haver eficácia no desempenho do papel da Família, Estado e Sociedade, é necessário que atuem juntos.
O Estado pode contribuir ainda na formulação das Leis. Hoje temos o Estatuto da Criança e do adolescente. E a mais nova Lei antibullying e ciberbullying, a Lei Nº 13.185, DE 6 DE NOVEMBRO DE 2015 , que institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying).
Quanto ao dever/papel da família, sociedade e Estado, citemos as palavras de Sponholz (2011):
um possível caminho para solucionar e/ou prevenir o bullying, é reunir a equipe pedagógica, funcionários, pais e alunos das instituições de ensino no levantamento de situações e meios para combatê-lo com leituras, palestras, teatros ou reportagens, pois a instituição não pode se esquivar diante dos conflitos, ainda mais quando o bullying ocorre nos espaços internos da instituição educativa.
Assista ao vídeo “Bullying e ciberbullying: conhecer para prevenir”, com a Cléo Fante.
“Embora o termo bullying seja relativamente recente, a violência física ou psicológica é um fenômeno antigo e comumente presente entre crianças e adolescentes, dentro ou fora da escola. Com a evolução e popularização”.
3.5 Prevenindo o Bullying
O melhor caminho contra o Bullying nas escolas é a prevenção. É preciso encontrar aliados contra o silêncio. Todas as pessoas são plenamente capazes de falar de seus medos se tiverem um espaço protegido e de segurança.
Algumas atitudes:
- Reconhecer a existência do bullying e das consequências que ele acarreta.
- Capacitar os profissionais para a identificação, diagnóstico, intervenção e encaminhamentos adequados em todos os casos ocorridos em suas dependências.
- Promove amplo debate, mobilizando a todas da comunidade educativa e das redes de apoio.
- Troca de experiências.
- Registro de ocorrências e os encaminhamentos corretos para produção de dados estatísticos, pesquisas e estudos para contribuir com a criação de políticas públicas de combate a violência escolar.
As reuniões servem para propagação de uma cultura de paz. Mesmo que fiquemos frustrados, pois os pais que frequentam as reuniões são os que menos precisavam estar, devemos lembrar que as ações são em longo prazo. Trata-se de um processo, que pressupõe persistência, paciência e perseverança.
Meier (2013) apresentar algumas sugestões de iniciativas para prevenir o bullying. Leia a seguir:
- Promova trabalhos coletivos que valorizam atitudes de gentileza, diálogo e o respeito às diferenças.
- Autodiscipline-se, para perceber e elogiar atitudes positivas de todos os seus alunos [...].
- Crie espaços nos quais os alunos possam expressar suas ideias sobre os conflitos vivenciados entre eles.
- Oriente os pais a criarem uma esfera de confiança com seus filhos, permitindo que eles falem de seus sentimentos.
- Dê ênfase à cautela quando orientá-los.
- Oriente os pais a fortalecer a personalidade e a autoestima de seus filhos.
- Fale mais sobre aquilo que pode e deve ser feito e sobre o que NÃO pode ser feito por seus alunos.
- Faça do bullying e cyberbullying um assunto conhecido. Promova debates, produções de trabalhos e campanhas.
- Se você é gestor, esforce-se para envolver todas as instâncias do ambiente escolar nessa causa.
- Tome cuidado com as pesquisas veiculadas na mídia dizendo que tudo é bullying.
Para obter mais informações e reunir mais subsídios para elaborar um bom projeto, leia a cartilha “Bullying”, do Conselho Nacional de Justiça, disponível em: http://www.ctur.ufrrj.br/Documentos/CartilhaBulliying.pdf
Leia a reportagem a seguir, que nos dá indicações de que capacitar educadores e envolver as famílias são algumas maneiras de combater as agressões e proteger as vítimas. A reportagem está disponível em: http://www.sieeesp.org.br/userfiles/file/imprensa/ep178/ep_178_janeiro_inter.pdf
3.6 Possibilidades de Prevenção: Pensando um Programa Antibullying
Algumas ações contra o bullying e outras formas de violência nos espaços educacionais devem ser promovidas pela direção das escolas e comunidade escolar, como medidas de prevenção e combate, visando solucionar os problemas derivados destes comportamentos inadequados.
- Promover um bom relacionamento entre os estudantes com atividades que levem a tolerar as diferenças individuais de seus colegas;
- Realizar debates sobre o assunto e construção coletiva de normas sociais e educacionais entre alunos e educadores;
- Envolver neste processo, direção, professores, funcionários, alunos e familiares e, conjuntamente, encontrarem formas de identificação do bullying e meios para combatê-lo.
- Fazer uma sondagem se há bullying na escola por meios de pesquisas através de questionários sem identificação para verificar o relacionamento entre os alunos e professores.
Analise os exemplos de questionários apresentados a seguir e procure observar quais adaptações poderia fazer para adequá-los a sua realidade.
Exemplo 1 - Portugal:
Exemplo 2 - Escola no Ciclo II
https://emefedsonrodrigues.wordpress.com/2010/06/22/questionario-respondido-pelos-alunos-ciclo-ii/
- Promoção de debates e projetos que tratem sobre o tema bullying nas salas de aula, divulgando e fazendo que seja assimilado por todos.
- Quando ocorrer alguma situação de bullying, a escola deve procurar lidar com o mesmo de forma direta, investigando e analisando os fatos, conversando com os envolvidos, chamando sempre os pais ou responsáveis pela criança ou adolescente, para que tomem ciência e consciência do ocorrido, levando-os a participar junto com a escola na busca de soluções.
- Importante a formação de professores, para que estejam preparados para intervir em situações de bullying e outros tipos de violência, possibilitando conhecerem os meios de apoio e encaminhamentos para medidas legais e soluções às situações de agressões, caso o diálogo com os envolvidos não tenha êxito.
- É preciso formar estudantes conhecedores do que é bullying e dos prejuízos que o mesmo resulta, promovendo ações antibullying, conscientizando-os dos danos, exaltando o respeito às diferenças, a solidariedade e proporcionando relações saudáveis entre professor-aluno, aluno-aluno, aluno-comunidade.
A seguir listamos alguns sites que podem ajudar a montar um Projeto Antibullying na escola:
Projeto antibullying ganha reforço de atividades nas escolas: http://www.curitiba.pr.gov.br/noticias/projeto-anti-bullying-ganha-reforco-de-atividades-nas-escolas/34308
Projeto antibullying: por uma escola mais humanizada:
http://www.gestaoeducacional.com.br/index.php/especiais/projeto-antibullying
Projeto prevenção e combate ao bullying escolar:
http://pt.slideshare.net/prof_roseli_barbosa/projeto-preveno-e-combate-ao-bullying-escolar-slides
Você pode encontrar algumas dicas interessantes no livro Bullying sem Blá-blá-blá:
- Meu aluno está sofrendo ou praticando bullying: como devo proceder?
- Meu filho está sofrendo ou praticando bullying: o que eu faço?
Também o livro Bullying sem blá-blá-blá Teen é um livro que tenta ser um papo descontraído e cheio de dicas para quem não quer sofrer bullying. Assista ao vídeo sobre o livro.
3.7 Técnicas Pedagógicas para o programa
Algumas das técnicas pedagógicas que sugerimos incorporar a um “Programa antibullying” são negociação e mediação de conflitos. Para praticá-las, será preciso entendê-las.
Vale alertar que qualquer ação sem a compreensão do contexto que o envolve não passará de uma técnica ou dinâmica de grupo.
Ter a visão integral das pessoas e das sociedades em situação de conflito será de extrema utilidade em face da intervenção prática.
É claro que será muito mais desafiador, se você atua em uma escola, permeada pelos contextos de violência e de desorganização familiar, dentre outras questões.
A proposta é mais ampliada do que um simples receituário. A proposta é que aprendamos a partir dos conflitos e das violências, em especial do bullying escolar, e eduquemos para viver em paz.
Portanto, as intervenções a serem feitas para prevenção e resolução do bullying não devem se limitar a uma única e isolada expressão do conflito e sim abranger tarefas e ofícios diversos.
Será preciso elaborar um projeto que contenha:
- Proposições preventivas: ações educativas que levem a reduzir ou suprir as causas que provocam conflitos. Uma escola salesiana tem uma filosofia educativa que prevê muitas dessas ações. No entanto, vale levar em consideração que, com frequência, as origens e as causas primeiras da maior parte dos conflitos têm de ser encontradas entre as DIVERGÊNCIAS E TENSÕES geradas, por exemplo, no âmbito do poder, do que propriamente nas ações dos cidadãos.
- Intervenções durante a fase do desenvolvimento dos conflitos: consistem, basicamente, no desenvolvimento de processos pedagógicos, de negociação, mediação, arbitragem ou tratamento.
- Proposições para resolver as “possíveis sequelas”: consistem, fundamentalmente, em tarefas de recuperação das pessoas que se viram afetadas nos processos conflitivos e por atos de violência.
Devemos analisar os indicadores do conflito, buscando resolver a sua fórmula, que resume seu surgimento, sua causa, sua evolução.
O autor Vinyamata (2005) apresenta o seguinte trinômio: N (necessidade) M (medo) e A (ação). Quando as necessidades básicas ou desejos não são satisfeitos, pode dar origem a atitudes de rebelião, de revolução, de preparação para o domínio, atitudes extremas de competitividade. A angústia, o temor, o medo e o estresse constituem o fio condutor que leva a ação para superar as dificuldades. No entanto, se angústia, o temor, o medo, o estresse se transformam em terror, se se dão em excesso, a sociedade e nós, pessoas, perdemos nossas capacidades de autocontrole, de raciocínio, de análise e compreensão e nos inclinamos para comportamentos agressivos que podem dar origem a formas violentas de comportamento.
Vejamos o exemplo da formação de várias gangues ou mesmo dos estudantes “mais indisciplinados” da escola. As soluções acabam sendo mais da justificação, no caso do Estado, para que invista mais em sua defesa. Ou seja, frente à maior repressão, a violência é maior. Trata-se de uma resposta lógica.
Você conhece programas e projetos que trabalham em busca da erradicação das violências das gangues juvenis, do bullying escolar, dentre outros? Pesquise sobre esse tema.
O mesmo autor ainda nos indica que solucionar conflitos não é algo que possa ser feito de maneira teórica ou abstrata. É algo que exige nossa atenção e capacidade de ação, de concretizar iniciativas que contribuam para isso.
Por isso, a proposta a seguir é apresentar algumas técnicas que possam contribuir na elaboração do seu programa. Ela tem a base fundamental na Comunicação Não Violenta (CNV), na qual o diálogo substitui o bate-boca e as soluções ganha-ganha substituem a imposição como regra.
Vale alertar para a importância da continuidade de seus estudos sobre conflito, violências, bullying, crises e as diversas maneiras de intervir sem violência e sem imposição, tendo por base vários campos e disciplinas tais como a: filosofia, antropologia, psicologia, medicina, biologia, psiquiatria. Buscar convergências entre as correntes. Existem ainda autores que defendem os estudos da Conflitologia, por não ser uma disciplina puramente teórica, mas de clara vocação prática e algumas capacidades e habilidades de intervenções, tais como: teoria do caos, das necessidades humanas e dos jogos.
Vinyamata (2005) coloca ainda que é importante muito mais que aprender várias técnicas de dinâmica de grupos ou princípios formais de mediação, conhecer o que acontece no organismo humano quando se sente medo ou angústia ou quando se atua de maneira violenta. É necessário, também, conhecer quais são os mecanismos sociais de transmissão do medo e da agressividade, as múltiplas formas de violência, do assédio moral e psicológico, as origens filosóficas de nossas insatisfações ou as causas sociais e políticas da injustiça social; as repercussões conflituais que geram mudanças e as maneiras de transformar os processos de mudança, conflito e crise em algo positivo.
Algumas ações em sua proposta podem e devem ser ampliada para além da negociação e mediação. Pois será preciso analisar a sua realidade escolar, que com certeza deve ser mais complexa e muito mais rica do que daríamos conta de listar.
Como a escola é um organismo vivo, apresenta diariamente, minuto a minuto, várias situações de conflitos. E os conflitos afetam a saúde de todos nós, a produtividade da instituição, geram guerras com custos humanos e financeiros incalculáveis, destroem famílias e trazem muita frustração e insatisfação.
Portanto, torna-se urgente encontrar vias de soluções para contribuir com aqueles (as) que perderam a capacidade em administrar os próprios conflitos.
Leia o artigo “Gestão do conflito escolar: da classificação dos conflitos aos modelos de mediação”, de Álvaro Chrispino, disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ensaio/v15n54/a02v1554.pdf
Leia também a entrevista com a antropóloga Cléo Fante, especialista em Bullying, disponível em:
http://www.amazoniabrasil.com/atualidades/entrevista-cleo-fante-antropologa-especialista-em-buylling/
Estude o Capítulo 3 “Como cultivar uma escola segura e cidadã” do livro “Conflitos na escola: modos de transformar”, disponível no formato PDF em: http://www.mprj.mp.br/documents/112957/10381358/
cartilha_cecip_conflitos_na_escola_modos_de_transformar.pdf
Nesta aula, abordamos o papel do professor, da família, da Escola e do Estado na prevenção e combate ao Bullying. Foi possível perceber que a resolução dos conflitos não está nas mãos de uma única pessoa, mas sim, é responsabilidade de toda a comunidade educativa e suas redes. Apresentamos ainda algumas dicas de prevenção ao Bullying, bem como orientações que podem ser úteis para a elaboração de um Programa Antibullying. Vamos em frente?