AULA 04
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AULA 4 – DEFICIÊNCIA AUDITIVA
Chegamos à nossa 4ª aula. Hoje iniciaremos os estudos sobre a deficiência auditiva com o objetivo de compreender o modo de ser dessas pessoas. Ao final da aula apresentaremos as dicas e possibilidades de suporte adequadas a cada caso. Bons Estudos!
4.1. Definição e Classificação
De acordo com o Decreto nº 5.296/04 , a deficiência auditiva é a perda bilateral, parcial ou total da audição, sendo aferida por audiograma.
De acordo com o nível de comprometimento auditivo, há uma classificação da deficiência, conforme Tabela 4.1.
4.2. Um pouco da história
Historicamente, a surdez era estigmatizada e já foi vista como uma doença contagiosa. Os surdos eram excluídos socialmente porque não falavam e, nessa época, acreditava-se que a fala representava a capacidade de pensar. Assim, as pessoas com deficiência auditiva eram comparadas aos “idiotas” (termo que designava as pessoas com deficiência intelectual).
Os gregos acreditavam que as pessoas surdas eram privadas do desenvolvimento intelectual, justamente porque não tinham a capacidade de se comunicar. Portanto, os surdos não tinham “voz e nem vez” e não possuíam uma linguagem reconhecida e respeitada.
No Século XV, a Espanha iniciou o primeiro trabalho de educação de surdos baseado em gestos e, em 1620, Bonet publica o 1º livro sobre a educação de surdos.
Em 1756, é fundada a 1ª escola para surdos em Paris, na França, a Abbé de L’Epeé e a base de seu ensino se assenta na filosofia oralista. O império oralista perdurou por 100 anos.
Em 1971, acontece o primeiro Congresso mundial de surdos em Paris e nesse evento a Língua de Sinais passa a ser reconhecida e valorizada.
Já, em 1975, ocorre em Washington o segundo congresso mundial de surdos que, dessa vez, enfatiza a importância da Comunicação Total. No entanto, esse movimento não ganhou força, pois os surdos acreditavam que essa forma de comunicação ainda não privilegiava a criação de uma identidade e uma cultura.
Em 1981, Danielle Bouvet inicia as primeiras pesquisas sobre o Bilinguismo, amplamente difundido nos dias de hoje.
O bilinguismo pressupõe o uso da LIBRAS em conjunto com a Língua Escrita/Oral, no nosso caso, a Língua Portuguesa. A ideia é que o surdo seja alfabetizado em LIBRAS (reconhecida como sua língua materna) e, em seguida, aprenda a língua portuguesa como segunda língua.
Esse modelo requer que a escola possua professores bilíngues, instrutores de LIBRAS e permite que a criança surda possa ser atendida em suas necessidades, podendo comunicar-se com os pais, desenvolver-se cognitivamente e pertencer aos mundos surdo e ouvinte.
Ainda estamos longe de atingir esse ideal. No Brasil, existem algumas iniciativas em andamento.
Fonte: https://pixabay.com/pt/audição-surdo-com-deficiência-ouvir-41429/
Assista ao vídeo “Educação bilíngue e cultura surda”, produzido para o curso de Pedagogia da UNIVESP, e conheça experiências de alunos surdos que estudam em uma escola regular polo no município de São Bernardo do Campo, em São Paulo, que prioriza o ensino da LIBRAS e da Língua Portuguesa. Reflita sobre as possibilidades e desafios da educação bilíngue no contexto de sua escola.
4.3. Visões acerca da Deficiência auditiva
Atualmente, deparamo-nos com duas formas de compreensão em relação à deficiência auditiva. A primeira refere-se a uma visão clínico-terapêutica, em que a surdez é vista como deficiência e a tentativa passa a ser a de “normalização” e a habilitação. Nesse caso, a fonoaudiologia e a medicina recomendam uso de aparelhos ou a realização de cirurgias para implante coclear, minimizando, assim, a perda auditiva.
Figura 4.2. Aparelho para deficientes auditivos
Fonte: http://www.freeimages.com/search/hearing-aid?free=1
Outra forma de compreender esse fenômeno é por meio da visão sócio-antropológica, que considera a identidade cultural e linguística da pessoa surda e reconhece que essas pessoas desenvolvem potencialidades psicoculturais diferentes das dos ouvintes, compreendem o mundo visualmente e valorizam a comunidade surda como forma de desenvolvimento e acesso à informação.
Nessa perspectiva, reconhece-se que os surdos têm características próprias, utilizam a experiência visual para a percepção do mundo à sua volta e necessitam conviver com outros surdos.
A opção é sempre da família e da pessoa surda, que deverá ser orientada pelos profissionais, para que possa escolher o caminho que deseja seguir. Existem pais que não admitem que seus filhos aprendam LIBRAS, por acreditarem que eles serão discriminados por serem diferentes e a grande maioria acaba optando pelas cirurgias corretivas ou pela utilização de aparelhos auditivos.
4.4. LIBRAS
No Brasil, a Libras (Língua Brasileira de Sinais) é reconhecida como a língua oficial dos surdos desde 2002, com a publicação da Lei nº 10.436/02. Ela permite integração entre surdos e ouvintes, sendo compatível em complexidade e expressividade com qualquer língua oral, expressando um pensamento complexo e abstrato.
O uso da LIBRAS permite ao surdo compreender conceitos, auxiliando em seu desenvolvimento cognitivo. Por ser uma língua, ela está em constante transformação, assim, é possível a criação de novos sinais na medida da necessidade.
A língua de sinais não é universal, cada país possui a sua. No caso do Brasil, encontramos sinais diferentes, de acordo com a região do país, expressando, assim, a riqueza cultural de um país com dimensões continentais.
O alfabeto de LIBRAS ou digital é composto por 64 configurações de mãos, que representam todas as letras do alfabeto, os números e sinais, conforme Figura 4.3.
Figura 4.3. Alfabeto em Libras
Fonte: https://pixabay.com/pt/gestos-de-mão-gestos-prejudicada-40468/
4.5. As crianças com deficiência auditiva na escola
Nas escolas, as crianças com deficiência auditiva/surdez podem parecer distraídas ou desatentas e demorar a emitir respostas para o professor. Além disso, podem falar muito alto ou muito baixo, e utilizar gestos como apontar para os objetos de interesse. O professor pode notar suas tentativas de procurar o som e realizar leitura labial.
Na escrita, podem apresentar troca de letras (grafemas), sons (fonemas) ou não compreensão de palavras, além de demonstrarem atraso na fala e ausência de comunicação oral ou visual.
Em relação à alfabetização do surdo, vale salientar que a decodificação de letra e som não tem sentido para ele, pois é privado da audição, por isso recomenda-se que no letramento sejam trabalhadas a letra, a leitura e a escrita relacionadas com as práticas sociais, onde os símbolos no contexto visual dão significado às palavras, conforme exemplo abaixo:
Figura 4.4. Letras A, B e C em Libras
Fonte: http://danianepereira.blogspot.com.br/2015/04/aalfabeto-libras.html
Outro aspecto importante refere-se ao ensino da língua portuguesa para o surdo usuário da LIBRAS. A maioria apresenta dificuldade em todos os níveis da LP, pois a organização sintática da LIBRAS é diferente da língua portuguesa, portanto, é importante que o professor oriente quanto à grafia correta das palavras e frases, mas considere a mensagem ou o conteúdo transmitido, muito mais do que a correção do texto no momento de avaliar uma atividade.
Veja o exemplo de produção escrita de um menino surdo de 15 anos. De acordo com Pereira (2005), a professora lançava mão de muitos recursos visuais, mas, à medida que percebeu avanços na escrita do aluno, “tirou o recurso visual para que ele pudesse refletir mais e melhor sobre suas ideias e expô-las no papel” (Pereira, 2005, p. 66).
Bruno na Praia*
7 de abril de 2004.
Bruno nadar, brincar bastante água. Cansado fica sentar coqueiro.
Ele pouco dormindo vento vai cair coco de cabeça Bruno gritar muito dor muito chora vai hospital de medico fez curativo.
Bruno casa mamãe porque dodói e, Bruno fala mamãe abraço.
*texto retirado do livro “Leitura, Escrita e Surdez”, pág. 66
É importante ressaltar que o professor precisa avaliar o conteúdo da mensagem transmitida, muito mais do que a compreensão de vocabulários isolados. Com o passar do tempo, o aluno poderá desenvolver sua habilidade de escrita, à medida que for estimulado e orientado.
Para esses alunos surdos, o uso da LIBRAS é fundamental, pois, por meio dela, eles conseguem interpretar e fazer a correspondência entre as duas línguas. Dessa forma, se o aluno é usuário de LIBRAS, a escola deve oferecer seu uso disponibilizando um intérprete para o aluno.
1. Para saber mais sobre o processo de aquisição de leitura do aluno surdo leia o capítulo “Refletindo sobre a compreensão da leitura por alunos surdos” (pag. 19 a 28) do livro “Leitura, Escrita e Surdez”, disponível para download em: http://cape.edunet.sp.gov.br/textos/textos/leituraescritaesurdez.pdf
2. Leia também o artigo “Atribuição de significado à escrita, por crianças surdas usuárias de língua de sinais”, de Tânia dos Santos Alvarez da Silva e Maria Augusta Bolsanello.
4.6. Mas quem é o Intérprete?
O Intérprete é um profissional que tem o papel de mediar o processo de comunicação da pessoa surda com o contexto em que ela está inserida. Ele precisa ter fluência em LIBRAS e em Língua Portuguesa e uma Certificação emitida pelo MEC ou pela FENEIS, que é a Federação Nacional de Educação e Integração dos surdos, uma organização com sede em São Paulo.
Figura 4.5. Letras em Libras
Fonte: https://pixabay.com/pt/l%C3%ADngua-de-sinais-americana-l%C3%ADngua-40466/
O Intérprete deve ser membro ativo do processo de inclusão educacional do aluno surdo e precisa participar de estratégias que facilitem o relacionamento entre o grupo escolar, sendo interlocutor entre o aluno seu professor e seus colegas, das adaptações dos conteúdos a serem apresentados em sala de aula, bem como preparar as adaptações de vocabulário e conteúdo em LIBRAS para o momento da interpretação. Seu papel fundamental é interpretar o conteúdo ministrado pelo professor, que tem a função de explicar e ensinar.
A seguir são listadas algumas dicas fundamentais para o professor no cotidiano da sala de aula:
- Dirigir-se diretamente ao aluno surdo.
- Evitar falar caminhando pela classe ou de costas.
- Falar com clareza, naturalidade, sem aumentar o tom da voz.
- Conversar de frente, de forma que a iluminação incida sobre o rosto de quem fala.
- Articular bem as palavras, sem exageros.
- Usar gestos convencionais ou LIBRAS.
- Utilizar frases simples e claras.
- Utilizar recursos que facilitem a compreensão (dramatizações, mímicas, materiais visuais).
- Estimular o aluno a se expressar oralmente, por escrito e ou por sinais nas atividades realizadas.
- Ver o aluno surdo como ser único que possui uma forma diferente de aprender e apreender o mundo.
Para finalizar, a dica mais valiosa é: converse com seu aluno!
Isso significa que você precisa preguntar a ele como aprende melhor e quais os recursos ou apoios necessários. Além disso, a parceria com a família é fundamental, pois as escolhas dela podem influenciar diretamente o modo como a escola lida com esse aluno.
Assista ao filme “Filhos do silêncio”, lançado em 1986, que narra a história de James Leeds um professor de língua de sinais idealista que costuma utilizar métodos pouco convencionais para ensinar seus alunos. Na escola em que acaba de ser contratado ele conhece Sarah Norman, uma jovem arredia que continua na escola mesmo após ter se formado. Ao tentar ajuda-la eles se envolvem amorosamente.
Nesta aula você pode compreender que o surdo deve ser respeitado em suas particularidades e que a cultura surda é muito valorizada, apesar de não ser a escolha de muitos pais. Eles têm uma forma diferente de se comunicar e podem ter dificuldades em aprender a língua portuguesa, mas o professor deve orientá-lo a escrever corretamente. Na próxima aula, estudará sobre a deficiência física. Até lá!
- Desvende o enigma abaixo, utilizando o alfabeto em Libras:
EDUCAÇÃO INCLUSIVA
- Leia as páginas 32 a 50 do livro “Leitura, Escrita e Surdez” “Leitura, Escrita e Surdez” , que apresenta atividades de leitura.
- Agora procure elaborar uma atividade adaptada para seu aluno surdo, de acordo com os conteúdos que você está ensinando nesse momento. Se você não tiver alunos surdos, procure se imaginar nessa situação para cumprir essa atividade. Ao final, compartilhe a atividade elaborada com os colegas e professor.