AULA 08
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AULA 8 - TRANSTORNOS DO ESPECTRO AUTISTA
Na aula anterior, você concluiu o estudo sobre as deficiências e nessa aula estudará as características dos estudantes com Transtorno do Espectro Autista, bem como estratégias de atuação em sala de aula. Os transtornos do Espectro Autista fazem parte do público-alvo da educação especial e é importante que aprenda mais a respeito do tema. Bons estudos!
8.1. Introdução
O Transtorno do Espectro Autista já teve várias nomenclaturas, DGD – Distúrbios Globais do Desenvolvimento, TID – Transtornos Invasivos do Desenvolvimento e TGD – Transtornos Globais do Desenvolvimento. A atual nomeação tem como base o DSM V.
Esse Transtorno, também conhecido como TEA, compreende o que antes era conhecido como autismo, síndrome de Asperger e o transtorno invasivo do desenvolvimento sem outra especificação.
8.2. O Autismo
O autismo foi descoberto por Leo Kanner, um médico psiquiatra que, em 1943, publicou o estudo “Autistic disturbances of affective contact”. Nesse estudo, ele observou 11 crianças que tinham em comum características como: isolamento extremo, desde o início da vida, e um desejo obsessivo pela preservação da mesmice.
Outros aspectos descobertos por ele é que para essas crianças as experiências externas eram sentidas como uma intrusão assustadora, a linguagem verbal não tinha função de comunicação, elas possuíam excelente capacidade de memorização decorada, grande dificuldade em generalizar conceitos e um desejo obsessivo pela manutenção da uniformidade (preferência pelo repetitivo, rotineiro e esquemático). Também apresentavam restrição da espontaneidade e ritualização do comportamento no dia a dia.
Esses primeiros achados foram fundamentais para a atual compreensão que temos do autismo, que se caracteriza por uma díade composta de “déficit na comunicação social” e “comportamentos restritos e repetitivos”. A seguir, apresentaremos, de maneira mais detalhada, tais condições (DSM-5, 2014):
- Déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos, conforme manifestado pelo que segue, atualmente ou por história prévia: déficits na reciprocidade socioemocional; déficits nos comportamentos comunicativos não verbais usados para interação social; déficits para desenvolver, manter e compreender relacionamentos.
- Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades, conforme manifestado por, pelo menos, dois dos seguintes, atualmente ou por história prévia: movimentos motores, uso de objetos ou fala estereotipados ou repetitivos; insistência nas mesmas coisas; adesão inflexível a rotinas ou padrões ritualizados de comportamento verbal ou não verbal; interesses fixos e altamente restritos que são anormais em intensidade ou foco; hiper ou hiporeatividade a estímulos sensoriais ou interesse incomum por aspectos sensoriais do ambiente.
- Os sintomas devem estar presentes precocemente no período do desenvolvimento, mas podem não se tornar plenamente manifestos até que as demandas sociais excedam as capacidades limitadas ou podem ser mascarados por estratégias aprendidas mais tarde na vida.
O autismo se instala antes dos 3 anos de idade e causa prejuízo em três áreas específicas:
- Na interação social: evita contato visual, físico, sem iniciativa de aproximação, isolamento, não atende quando chamado, não compreendem regras do jogo social nem o sofrimento alheio;
- Na comunicação: ausência de comunicação verbal e não verbal;
- No comportamento: estereotipia, falta de imitação, apego pela manipulação de certos objetos, rotinas, rituais, ordem.
Figura 8.1. Rotina autista
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Pecs_01.svg
Atualmente, parece que estamos vivendo uma epidemia, mas o fato é que, no mundo, a cada 20 minutos, uma criança é diagnosticada como autista.
A literatura aponta uma prevalência de 1 caso detectado a cada 54 nascimentos, sendo mais comum no sexo masculino, com uma proporção de 4 meninos para cada menina.
Algumas pesquisas apontam a existência de componentes genéticos não havendo um padrão. Existem muitos estudos em curso, mas ainda não foi definida uma causa clara para o autismo.
Até 1980, esse transtorno fazia parte do grupo das psicoses infantis e hoje é considerado deficiência, de acordo com a Lei 12.764 27/12/12.
Segundo a ASA (Autism Society of America), indivíduos com autismo apresentam pelo menos metade das seguintes características:
- Pouco ou nenhum contato visual;
- Aparente insensibilidade à dor;
- Preferência pela solidão;
- Rotação de objetos- brinca de forma inadequada ou bizarra com os mais variados objetos;
- Ausência de resposta aos métodos normais de ensino- muitos precisam de material adaptado;
- Insistência em repetição desnecessária de assuntos;
- Resistência à mudança de rotina;
- Não reconhece o perigo;
- Ecolalia(repete palavras ou frases);
- Recusa colo ou afagos- bebês preferem ficar no chão que no colo;
- Age como se estivesse surdo- não responde pelo nome;
- Dificuldade em expressar necessidades, com ausência ou limitação da linguagem oral e/ou corporal (gestos).
- Acessos de raiva- demonstra extrema aflição sem razão aparente;
- Habilidade motora irregular- pode não querer chutar uma bola, mas pode arrumar blocos;
- Desorganização sensorial- hipo ou hipersensibilidade, por exemplo, auditiva;
- Dificuldade de relacionamento com outras pessoas.
Vale salientar que nem todos os indivíduos com autismo apresentam todos estes sintomas, uma vez que o autismo se manifesta de forma única em cada pessoa.
Em 70% dos casos, o autismo está associado à deficiência intelectual. Sendo assim, muitas dessas crianças podem apresentar:
- Dificuldades para resolver problemas da vida diária, para comunicar-se de maneira eficaz, para manter relacionamentos sociais e para lidar com imprevistos e dificuldades diárias.
- Em diferentes níveis, podem apresentar dificuldade em segmentar tarefas, compreender informações ou instruções relacionadas a uma atividade, planejar e, quando necessário, solicitar ajuda ao professor.
Dessa maneira, alunos com TEA precisam que essas habilidades sejam ensinadas diretamente a eles.
1ª FAÇA USO DE INSTRUÇÕES CLARAS, DIRETAS E SIMPLES PARA CADA TAREFA
É importante que se divida uma instrução complexa em várias instruções simples, que deverão ser apresentadas de forma sucessiva, para que o aluno possa completar a tarefa realizando-a em pequenas partes.
2ª USAR ESTÍMULOS VISUAIS PARA O ESTABELECIMENTO DE ROTINA E INSTRUÇÕES
3ª ENSINAR COMPORTAMENTOS DE OBEDIÊNCIA A REGRAS
Crianças/jovens com desenvolvimento atípico também entendem regras e instruções e precisam segui-las.
4ª ENSINAR O COMPORTAMENTO DE SOLICITAÇÃO
É muito importante ensinar aos alunos os comportamentos adequados para pedir auxílio ao professor ou aos colegas (essa solicitação pode ser verbal ou não verbal, por meio de placas, símbolos, cartões e outros recursos).
5ª ESTIMULAR O DESENVOLVIMENTO DA AUTONOMIA E DA INDEPENDÊNCIA
6ª USAR A AVALIAÇÃO DA FUNCIONALIDADE DO COMPORTAMENTO
Sempre que um comportamento inadequado ocorrer, é importante entender, observar e analisar o que ocorreu antes e logo depois dele. Com isso, pode-se entender por que o comportamento ocorre e modificar o ambiente para propiciar a emissão de comportamentos mais adequados.
7ª ALUNOS COM TEA QUE TÊM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL PRECISAM DE CURRÍCULO ADAPTADO
Nos currículos adaptados, é essencial o uso de dicas textuais, símbolos pictográficos, fotografias. O uso do computador ou tablet pode ser um facilitador.
Recomendações aos alunos que iniciam aulas em uma nova escola:
Esses alunos podem sentir certo grau de desconforto ou ansiedade, que pode ser reduzido adotando medidas como:
- Combine com os pais uma visita inicial fora do horário escolar.
- Entregue aos pais uma foto do exterior da escola, para ajudar a preparar a criança para a visita.
- Forneça uma ou duas fotografias de membros importantes da equipe escolar.
- Na primeira visita, utilize o mesmo caminho de entrada na sala de aula que a criança deverá seguir quando o período escolar começar.
- Durante a visita, os responsáveis pelo atendimento devem estar preparados para receber a criança, que pode demonstrar pouco interesse ou interesse de forma atípica. Nesse momento, essa questão não deve ser o foco da atenção.
- A disponibilidade da equipe escolar para apoiar o processo de familiarização é fundamental.
Uma das principais barreiras observadas pelos professores em relação aos autistas refere-se à comunicação. É comum observar o desconforto dos professores que encontram dificuldades em estabelecer um canal de comunicação efetivo com o aluno autista. Uma dica importante é o uso de instruções verbais.
Os processos de pensamento da pessoa com TEA, normalmente, impedem a interpretação instantânea de grandes quantidades de dados linguísticos. É importante, por isso, usar instruções curtas, evitar o uso de inferências e de expressões ambíguas.
Cabe ressaltar que crianças autistas têm dificuldades em perceber as intenções implícitas em uma frase. Portanto, se você disser que “está chovendo canivete”, provavelmente, ela vai se esconder debaixo da mesa, pois possui uma compreensão literal do que lhe é dito.
Assim, você deve se lembrar sempre das três regras de ouro das instruções verbais:
- Serem simples;
- Serem específicas;
- Serem diretas.
Outro recurso facilitador são os avisos e instruções visuais. Entre os avisos visuais adequados, podem incluir-se cronômetros, ampulhetas de areia, óleo ou água.
Com os estudantes mais velhos e mais aptos, pode ser suficiente apontar o final de uma tarefa no relógio localizado na sala de aula. Note que é sempre importante ter um marcador de tempo, para que o aluno possa se orientar.
Uma questão fundamental é a construção da rotina do aluno com autismo. Lembre-se que ele precisa de previsibilidade. Assim, procure estabelecer um rotina diária e semanal das atividades a serem desenvolvidas e a disponha de modo que ele possa visualizar tudo que irá acontecer. Faça cartões ou planilhas utilizando imagens familiares ou objetos de referência, para que o aluno possa sempre acompanhar o andamento do dia.
Para ver alguns exemplos de rotina para alunos autistas, clique aqui.
Evite fazer mudanças bruscas na rotina ou na organização da sala. Caso isso seja imprescindível, explique ao aluno o que irá ocorrer.
8.3. Pausa para o vídeo
Para saber um pouco mais sobre as características da Síndrome de Asperger, assista ao trecho do filme Mary e Max
.
Na síndrome de Asperger, não há atraso clinicamente significativo na linguagem, no desenvolvimento cognitivo ou no desenvolvimento de competências adequadas à idade.
Paulo é um garoto de 14 anos, que cursa o primeiro ano do Ensino Médio em uma escola de tempo integral. A Coordenadora do Ensino Médio relata que ele é um bom aluno, sempre tira notas altas e apresenta uma curiosidade ao fazer as provas: ele costuma circular as palavras dos enunciados dos exercícios que lhe chamam atenção e escreve no canto da folha os significados, de acordo com o dicionário. Ao conhecê-lo, observei que ele se comunicava de forma clara e utilizando um vocabulário rebuscado, com palavras que até eu desconhecia. Evitava contato visual, mas me contou que gostava da escola, principalmente de matemática e física. Ao ser perguntado sobre os amigos, informou que tinha 11 amigos na razão 4 para 7. Intrigada, pedi que ele me explicasse melhor e então ele disse que tinha 4 amigos e 7 amigas e me mostrou uma planilha em que ele organizava o tempo disponível na hora do almoço para estar com seus amigos. O tempo destinado a cada um era compatível com o nível de amizade que ele tinha.
Ao final da leitura, faça o registro de suas impressões.

Tabela 8.1 Principais diferenças entre Autismo e Síndrome de Asperger
Livro “Nascido em um dia azul” http://www.intrinseca.com.br/upload/download/Release_imp_Nascido.pdf, de Daniel Tammet
Nessa aula pudemos aprender mais sobre o Transtorno do Espectro Autista. O número de crianças com TEA vem aumentando nos últimos anos e as escolas estão cada vez mais recebendo matrículas desses alunos, precisando estar preparada para recebê-los, inclui-los e ensiná-los. Na próxima aula, aprenderemos mais sobre as altas habilidades/superdotação. Bons Estudos!